Na nossa região existem escolas onde ocorre a inclusão de
alunos surdos, porém a mais próxima que tem atendimento específico é a Escola
de Ensino Médio Concórdia para Surdos, de Santa Rosa.
Nosso estudo de caso se deu junto a Escola Estadual de Ensino Médio Rocha Pombo, que
está situada na rua Santo Cristo, nº 345, no município de Crissiumal.
Entrada da Escola: no outdoor Bem-Vindos em Libras.
A Escola tem em seu quadro curricular a
Classe Especial
de
Deficientes
Auditivos há aproximadamente 28 anos. No
início do trabalho da professora, as
turmas da classe especial permaneciam apenas na sala de aula, sem
participarem
de nada que era realizado na escola, um mundo totalmente alheio aos
dos
outros alunos. Aos poucos
essa
realidade foi sendo mudada pelo trabalho desenvolvido na escola.
Nos últimos 15 anos vêm se trabalhando gradativamente os alunos com
o objetivo de incluí-los em salas comuns de ensino. Um
dos
trabalhos pioneiros para a inclusão foi uma Oficina de comunicação com as mães dos alunos surdos, as quais vinham
de quinze em
quinze dias, após o
recreio ter aulas de Libras e também partilharem seus anseios e desejos sobre seus filhos. Esse trabalho mostrou um resultado positivo significativo para as mães olharem
seus
filhos como pessoas capazes, melhor se comunicarem com eles, uma aproximação entre mãe e filho.
No início
do
ano de 2005, a professora
da Classe
Especial de Deficientes Auditivos, Mauriceia Maioli
Volpato, expôs à equipe diretiva da Escola que no ano
seguinte poderiam
incluir três alunas
surdas na quinta série e desenvolveram
um trabalho específico para a inclusão. Foi um
processo
natural, pois os alunos da escola já estavam acostumados a conviver com os
alunos surdos em momentos extraclasses, como Educação Física, passeios, teatros, hora cívica e outros.
A partir do mês de abril, a professora passou a entrar na turma da quarta série para trabalhar sobre cultura surda (jeito de se relacionar com
os surdos),
mais especificamente como se dava a aprendizagem
dos
alunos surdos, trabalhar a
língua de LIBRAS, alfabeto manual, sinais do dia a dia, sinais
específicos das
disciplinas e assim os alunos
vivenciavam e compreendiam esse novo mundo.
As alunas passaram
a participar diretamente de todas as atividades extraclasse, como hora cívica,
teatros, passeios ou em momentos na sala de
aula em que eram desenvolvidas atividades significativas com a turma, as
quais achavam
importante a participação das alunas especiais. Desta forma
transcorreu naturalmente a transição das
alunas surdas da
classe especial
de deficientes auditivos para a sala comum.
No ano de 2006, as meninas iniciaram o ano letivo matriculadas
na quinta série. Foi um marco para a escola Rocha Pombo e para o município, uma
mudança muito grande na metodologia dos professores e na postura em sala de aula, pois agora as alunas surdas eram suas alunas, as quais tinham direito de ter o acesso aos conhecimentos
iguais
aos demais
alunos.
Os professores tiveram que observar os recados dados em
sala, que deveriam
ser
escritos no quadro e toda a disciplina exposta visualmente aos alunos, explicar os conteúdos, criar estratégias
para
que as
mesmas compreendessem o conteúdo, havia muitos encontros de estudo entre a
professora Mauriceia e os demais professores que planejavam como poderia ser desenvolvido tal conteúdo, tudo era muito novo,
para todos e juntos descobriram a melhor maneira de trabalhar.
Foi combinado
com
os professores que sempre que sentissem necessidade durante o turno de
aula normal, chamassem a profissional para interpretar o que era importante naquele momento para que as alunas pudessem realizar as atividades. Então, a professora
entrava
em sala,
interpretava e saía em
seguida, porque a escola não tinha intérprete para ficar na sala e a professora
atendia
outros alunos surdos
da Classe Especial
no mesmo turno que
também
estavam em processo de inclusão.
No momento das provas ou
qualquer tipo de
trabalho para avaliação, os
professores chamavam
a professora para auxiliar na interpretação em Libras, sendo que a escola como um
todo
sempre respeitou a diferença de
comunicação dos alunos, a Língua Brasileira de Sinais.
Na maior parte do tempo os próprios alunos, colegas auxiliavam como intérprete
em
sala, o que
facilitava
o andamento das
aulas. Sempre foram muito esforçadas e como
estavam em três se ajudavam muito. Durante todos os anos do ensino fundamental em algum dos três trimestres a aluna Andreia (incluída) foi
escolhida como aluna destaque pelos professores das referentes séries.
Durante todos
esses
anos a escola buscou incluir a língua de Libras
em todos os seus momentos de atividades. Havia interpretação de tudo
que
acontecia na escola,
os
alunos ouvintes passaram a fazer apresentações específicas usando a língua de libras como forma de respeito às diferenças. Pensando nisso a professora Mauriceia ministrou voluntariamente no ano de
2010 para os professores, funcionários e alguns alunos uma Oficina de 40
horas em LIBRAS na escola fora do horário de aula.
Ano após ano, os alunos vêm seguindo esse ritmo de trabalho, com a diferença que atualmente a escola têm 5 surdos incluídos
em diferentes
turmas: dois alunos no 2º
ano
do Ensino Médio no
tuno da manhã (tipo de Surdez: Surdo), 2
alunos na 8ª série do Ensino Fundamental (Tipo de
Surdez: Deficiente Auditivo e Surdez Múltipla), e 1 aluna no 5º ano do
Ensino Fundamental no turno da tarde (Tipo de Surdez: Deficiente Auditiva Múltipla).
No ano passado aconteceu a 1ª formatura de
Ensino Médio com alunas surdas inclusas, das duas uma atualmente é aluna do
Instituto Federal Farroupilha, em curso de graduação.
Alunos do Ensino Médio durante visita ao Lar dos Idosos.
Aluna do 5º ano durante Comemoração da Quinzena da Criança.
Alunos da 8ª série organizando mural com colega ouvinte.
Atualmente
esses alunos recebem atendimento da professora Mauriceia, que possui Curso de
Tradutora/Intérprete de Língua de Libras, Pós Graduação em Neuropsicopedagogia
e Educação Especial Inclusiva, e Pós Graduação em Tradutor/Intérprete e
Docência em Libras. A profissional trabalha 40 horas na escola, na Sala
Multifuncional (atendimento contra turno) e Intérprete nas salas de aula. Não
há atendimento de outros profissionais.
Professora Mauriceia interpretando durante a prova do Simulado ENEM, realizado pela escola.
Os
demais professores da escola sabem o básico de LIBRAS, como o alfabeto manual.
A comunicação com os alunos surdos ocorre principalmente através da escrita, já
que só a aluna do 5º ano não é alfabetizada, e leitura labial.
O relacionamento com os alunos ouvintes é de respeito e cooperação,
todos se ajudam no que é preciso para que todos tenham condições
de acompanhar o trabalho de sala de aula. Hoje é comum
ver
alunos surdos com
alunos ouvintes
conversando em libras na hora de intervalo da escola, como os próprios colegas ouvintes fazerem o papel de intérprete em sala de aula para
os colegas surdos.
Cristiane Klein, Denise Von Mühlen, Dionara Wentz, Nádia Meith
Cristiane Klein, Denise Von Mühlen, Dionara Wentz, Nádia Meith
Parabéns pela pesquisa, um texto claro e bem elaborado. Diante dessas informações, vou fazer alguns questionamentos:
ResponderExcluir- Há professores surdos, nessa região?
- No ponto de vista do grupo a escola atende as necessidades dos alunos surdos ou seria melhor uma escola especializada?
Abraços
Nessa região não existem professores surdos. Acreditamos que a escola atende as necessidades dos alunos, fazendo com que ele se sinta aluno como os demais, sentindo-se confiante e a vontade de se comunicar com todos, facilitando sua vida fora do ambiente escolar.
ResponderExcluirVamos refletir:
ResponderExcluirÉ possível expressar conceitos abstratos na língua de sinais?
Aguardo reflexão
Sim, é possível. O surdo tem mais dificuldade em perceber o abstrato, sendo então necessário usar mais exemplos do que com alunos ouvintes, fazer ligação com imagens...
ResponderExcluirRespondendo a reflexão proposta:
ResponderExcluirNa língua dos sinais é possível, sim, expressar conceitos abstratos, discutir filosofia, política, literatura, matemática, assuntos do cotidiano e etc.
Porém a pressuposição de que não se consegue expressar ideias ou conceitos abstratos está firmada na crença de que a língua de sinais é limitada. Emmanuelle Laborrit, surda francesa, em seu livro "O voo da gaivota", afirma:
"Os sinais podem ser agressivos, diplomáticos, poéticos, filosóficos, matemáticos: tudo pode ser expresso por meio de sinais, sem perda nenhuma de conteúdo."
Bibliografia:
GESSER, Audrei. Libras? : que lingua é essa? crenças e preconceito em torno da língua de sinais e da realidade surda. 1ª ed. Parábola, 2010.
Abraços
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirO interprete é essencial para as escolas, por exemplo na minha cidade Tenente Portela, ha apenas uma profissional capacitado para o mesmo. Sendo que ha em torno de quatro alunos surdos na cidade em escolas diferentes.
ResponderExcluirKelin e Jaqueline
Em meu município os alunos surdos se concentram todos na mesma escola, "facilitando" o trabalho da intérprete e o desenvolvimento dos mesmos.
ResponderExcluirBoa tarde,
ResponderExcluirSou a tutora a distância de Libras – Rubia.
Parabéns pela realização da pesquisa. Percebo pelos relatos de vocês que esta escola vem trabalhando fortemente para qualificar a educação de surdos.
Diante de um panorama tão promissor, o que vocês acreditam que poderia aprimorar ainda mais o processo de ensino e aprendizagem destes alunos surdos incluídos?
Abraço
Muito interessante o trabalho, mas acredito que bem trabalhoso pois os alunos com com deficiencia auditiva precisam de uma atenção redobrada e conciliar com os outros alunos não deve ser nada facil.Parabém.
ResponderExcluirJaqueline Garcia.
Muito interessante esse trabalho de envolver esses alunos com deficiência auditiva com os demais alunos, porém precisaria uma atenção redobrada, e talvez só seria possível com uma interprete em cada sala de aula.
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirolá queridos colegas.
ResponderExcluirA atenção redro brada nestes alunos é muito importante mas na minha opinião é necessário que existam as leis para garantir que as crianças com necessidades educacionais especiais sejam matriculadas em escola comum,pois a inclusão não pode ser feita com as crianças fora da escola regular.A Legislação Brasileira garante a todos indistintamente o direito à escola em qualquer nível de ensino e um atendimento especializado as crianças com necessidades especiais,desta forma as pessoas portadoras de necessidades especiais estão amparadas legalmente.
Att. Ronei A. Pilger