domingo, 27 de outubro de 2013

Estudo de caso com alunos surdos na Escola Estadual de Ensino Médio Rocha Pombo, de Crissiumal.


Na nossa região existem escolas onde ocorre a inclusão de alunos surdos, porém a mais próxima que tem atendimento específico é a Escola de Ensino Médio Concórdia para Surdos, de Santa Rosa.
Nosso estudo de caso se deu junto a Escola Estadual de Ensino Médio Rocha Pombo, que está situada na rua Santo Cristo, nº 345, no munipio de Crissiumal.
Entrada da Escola: no outdoor Bem-Vindos em Libras.
A Escola tem em seu quadro curricular a Classe Especial de Deficientes Auditivos há aproximadamente 28 anos. No início do trabalho da professora, as turmas da classe especial permaneciam apenas na sala de aula, sem participarem de nada que era realizado na escola, um mundo totalmente alheio aos dos outros alunos. Aos poucos essa realidade foi sendo mudada pelo trabalho desenvolvido na escola.
Nos últimos 15 anos vêm se trabalhando gradativamente os alunos com o objetivo de incluí-los em salas comuns de ensino. Um dos trabalhos pioneiros para a inclusão foi uma Oficina de comunicação com as mães dos alunos surdos, as quais vinham de quinze em quinze dias, após o recreio ter aulas de Libras e também partilharem seus anseios e desejos sobre seus filhos. Esse trabalho mostrou um resultado positivo significativo para as mães olharem seus filhos como pessoas capazes, melhor se comunicarem com eles, uma aproximação entre mãe e filho.
No início do ano de 2005, a professora da Classe Especial de Deficientes Auditivos, Mauriceia Maioli Volpato, exs à equipe diretiva da Escola que no ano seguinte poderiam incluir ts alunas surdas na quinta série e desenvolveram um trabalho espefico para a inclusão. Foi um processo natural, pois os alunos da escola já estavam acostumados a conviver com os alunos surdos em momentos extraclasses, como Educação Física, passeios, teatros, hora cívica e outros.
A partir do mês de abril, a professora passou a entrar na turma da quarta série para trabalhar sobre cultura surda (jeito de se relacionar com os surdos), mais especificamente como se dava a aprendizagem dos alunos surdos, trabalhar a língua de LIBRAS, alfabeto manual, sinais do dia a dia, sinais específicos das disciplinas e assim os alunos vivenciavam e compreendiam esse novo mundo.
As alunas passaram a participar diretamente de todas as atividades extraclasse, como hora cívica, teatros, passeios ou em momentos na sala de aula em que eram desenvolvidas atividades significativas com a turma, as quais achavam importante a participação das alunas especiais. Desta forma transcorreu naturalmente a transição das alunas surdas da classe especial de deficientes auditivos para a sala comum.
No ano de 2006, as meninas iniciaram o ano letivo matriculadas na quinta série. Foi um marco para a escola Rocha Pombo e para o munipio, uma mudança muito grande na metodologia dos professores e na postura em sala de aula, pois agora as alunas surdas eram suas alunas, as quais tinham direito de ter o acesso aos conhecimentos iguais aos demais alunos.
Os professores tiveram que observar os recados dados em sala, que deveriam ser escritos no quadro e toda a disciplina exposta visualmente aos alunos, explicar os conteúdos, criar estratégias para que as mesmas compreendessem o conteúdo, havia muitos encontros de estudo entre a professora Mauriceia e os demais professores que planejavam como poderia ser desenvolvido tal conteúdo, tudo era muito novo, para todos e juntos descobriram a melhor maneira de trabalhar.
Foi combinado com os professores que sempre que sentissem necessidade durante o turno de aula normal, chamassem a profissional para interpretar o que era importante naquele momento para que as alunas pudessem realizar as atividades. Então, a professora entrava em sala, interpretava e saía em seguida, porque a escola não tinha intérprete para ficar na sala e a professora atendia outros alunos surdos da Classe Especial no mesmo turno que também estavam em processo de inclusão.
No momento das provas ou qualquer tipo de trabalho para avaliação, os professores chamavam a professora para auxiliar na interpretação em Libras, sendo que a escola como um todo sempre respeitou a diferença de comunicação dos alunos, a Língua Brasileira de Sinais.
Na maior parte do tempo os próprios alunos, colegas auxiliavam como intérprete em sala, o que facilitava o andamento das aulas. Sempre foram muito esforçadas e como estavam em três se ajudavam muito. Durante todos os anos do ensino fundamental em algum dos três trimestres a aluna Andreia (incluída) foi escolhida como aluna destaque pelos professores das referentes séries.
Durante todos esses anos a escola buscou incluir a língua de Libras em todos os seus momentos de atividades. Havia interpretação de tudo que acontecia na escola, os alunos ouvintes passaram a fazer apresentações específicas usando a língua de libras como forma de respeito às diferenças. Pensando nisso a professora Mauriceia ministrou voluntariamente no ano de
2010 para os professores, funcionários e alguns alunos uma Oficina de 40 horas em LIBRAS na escola fora do horário de aula.
Ano após ano, os alunos vêm seguindo esse ritmo de trabalho, com a diferença que atualmente a escola têm 5  surdoincluídos  em  diferentes turmas: dois alunos no 2º ano do Ensino Médio no tuno da manhã (tipo de Surdez: Surdo), 2 alunos na 8ª série do Ensino Fundamental (Tipo de Surdez: Deficiente Auditivo e Surdez Múltipla), e 1 aluna no 5º ano do Ensino Fundamental no turno da tarde (Tipo de Surdez: Deficiente Auditiva Múltipla). No ano passado aconteceu a 1ª formatura de Ensino Médio com alunas surdas inclusas, das duas uma atualmente é aluna do Instituto Federal Farroupilha, em curso de graduação.

Alunos do Ensino Médio durante visita ao Lar dos Idosos. 

Aluna do 5º ano durante Comemoração da Quinzena da Criança. 

Alunos da 8ª série organizando mural com colega ouvinte.

Atualmente esses alunos recebem atendimento da professora Mauriceia, que possui Curso de Tradutora/Intérprete de Língua de Libras, Pós Graduação em Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva, e Pós Graduação em Tradutor/Intérprete e Docência em Libras. A profissional trabalha 40 horas na escola, na Sala Multifuncional (atendimento contra turno) e Intérprete nas salas de aula. Não há atendimento de outros profissionais.
Professora Mauriceia interpretando durante a prova do Simulado ENEM, realizado pela escola.

Os demais professores da escola sabem o básico de LIBRAS, como o alfabeto manual. A comunicação com os alunos surdos ocorre principalmente através da escrita, já que só a aluna do 5º ano não é alfabetizada, e leitura labial.

O relacionamento com os alunos ouvintes é de respeito e cooperação, todos se ajudam no que é preciso para que todos tenham condições de acompanhar o trabalho de sala de aula. Hoje é comum ver alunos surdos com alunos ouvintes conversando em libras na hora de intervalo da escola, como os próprios colegas ouvintes fazerem o papel de inrprete em sala de aula para os colegas surdos.

Cristiane Klein, Denise Von Mühlen, Dionara Wentz, Nádia Meith

13 comentários:

  1. Parabéns pela pesquisa, um texto claro e bem elaborado. Diante dessas informações, vou fazer alguns questionamentos:
    - Há professores surdos, nessa região?
    - No ponto de vista do grupo a escola atende as necessidades dos alunos surdos ou seria melhor uma escola especializada?
    Abraços

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  2. Nessa região não existem professores surdos. Acreditamos que a escola atende as necessidades dos alunos, fazendo com que ele se sinta aluno como os demais, sentindo-se confiante e a vontade de se comunicar com todos, facilitando sua vida fora do ambiente escolar.

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  3. Vamos refletir:
    É possível expressar conceitos abstratos na língua de sinais?
    Aguardo reflexão

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  4. Sim, é possível. O surdo tem mais dificuldade em perceber o abstrato, sendo então necessário usar mais exemplos do que com alunos ouvintes, fazer ligação com imagens...

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  5. Respondendo a reflexão proposta:
    Na língua dos sinais é possível, sim, expressar conceitos abstratos, discutir filosofia, política, literatura, matemática, assuntos do cotidiano e etc.
    Porém a pressuposição de que não se consegue expressar ideias ou conceitos abstratos está firmada na crença de que a língua de sinais é limitada. Emmanuelle Laborrit, surda francesa, em seu livro "O voo da gaivota", afirma:
    "Os sinais podem ser agressivos, diplomáticos, poéticos, filosóficos, matemáticos: tudo pode ser expresso por meio de sinais, sem perda nenhuma de conteúdo."
    Bibliografia:
    GESSER, Audrei. Libras? : que lingua é essa? crenças e preconceito em torno da língua de sinais e da realidade surda. 1ª ed. Parábola, 2010.
    Abraços

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  6. O interprete é essencial para as escolas, por exemplo na minha cidade Tenente Portela, ha apenas uma profissional capacitado para o mesmo. Sendo que ha em torno de quatro alunos surdos na cidade em escolas diferentes.
    Kelin e Jaqueline

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  7. Em meu município os alunos surdos se concentram todos na mesma escola, "facilitando" o trabalho da intérprete e o desenvolvimento dos mesmos.

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  8. Boa tarde,
    Sou a tutora a distância de Libras – Rubia.
    Parabéns pela realização da pesquisa. Percebo pelos relatos de vocês que esta escola vem trabalhando fortemente para qualificar a educação de surdos.
    Diante de um panorama tão promissor, o que vocês acreditam que poderia aprimorar ainda mais o processo de ensino e aprendizagem destes alunos surdos incluídos?
    Abraço

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  9. Muito interessante o trabalho, mas acredito que bem trabalhoso pois os alunos com com deficiencia auditiva precisam de uma atenção redobrada e conciliar com os outros alunos não deve ser nada facil.Parabém.
    Jaqueline Garcia.

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  10. Muito interessante esse trabalho de envolver esses alunos com deficiência auditiva com os demais alunos, porém precisaria uma atenção redobrada, e talvez só seria possível com uma interprete em cada sala de aula.

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  11. olá queridos colegas.
    A atenção redro brada nestes alunos é muito importante mas na minha opinião é necessário que existam as leis para garantir que as crianças com necessidades educacionais especiais sejam matriculadas em escola comum,pois a inclusão não pode ser feita com as crianças fora da escola regular.A Legislação Brasileira garante a todos indistintamente o direito à escola em qualquer nível de ensino e um atendimento especializado as crianças com necessidades especiais,desta forma as pessoas portadoras de necessidades especiais estão amparadas legalmente.
    Att. Ronei A. Pilger

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